Prostitutas by me

hoje vi flores de calçada
todos passam
olham
desdenham
alguns cheiram
apenas cheiram
e partem 
deixam pra trás marcas, pétalas quebras, almas destruídas
mas elas voltam pra calçada
e lá ficam esperando
esperam comida, o pão nosso de cada dia
esperam uma vida que nunca chega
esperam uma mudança de vendo, de estação, de lua
esperam um príncipe, que chegará em cavalo branco e lhes estenderá a mão, a colhe-las para ter só para ele

hoje vi flores
de todas as cores, tamanhos e jeitos

vi flores
apenas flores

Primeiro sábado de um outubro

  A chuva começou forte, batia na janela, insistia em entrar, queria me lavar, levar minha solidão, meus problemas para longe de mim, queria me alegrar. E não desistiu, não parou.

Permaneceu fininha, como lágrimas de choro contido, magoado, que insistem em cair, teimosa, escorrida, borrando a maquiagem.

Por mim pode chover o dia todo. O dia fica mais lindo.

O final da chuva me encanta, o verde, a vida, a alegria que surge depois do silêncio barulhento dos pingos insistentes dá espaço a algazarra dos pardais e o vôo do beija-flor no meu muro. 

Também me lembro da cantoria dos sapos, detesto eles, mas que eles alegram o interior em tempos de chuva, isso eles alegram, lembro das noites em que me embalam o sono.

A chuva de ontem durou o dia todo,realmente Deus é muito insistente,tentou tornar meu dia bom,

mas fechei a janela para não ver

e coloquei fones nos ouvidos – último volume –,

para não ouvir.

Cerrei meu coração e choveu aqui dentro.