domingo, 24 de abril de 2011

Vocabulário feminino by Leila Ferreira



Vocabulário feminino 

Leila Ferreira 

Se eu tivesse que escolher uma palavra - apenas uma - para ser item  obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra seria um  verbo de quatro sílabas: descomplicar. 

Depois de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando da hora de aprendermos a viver  com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós próprias, cobrar  menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos para o  espelho. Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos à tão falada qualidade de vida que queremos - e merecemos - ter. Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da  mulher moderna. Amizade, por exemplo. Acostumadas a concentrar  nossos sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas,  acabamos deixando as amigas em segundo plano.  

E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto a   convivência com as amigas. Ir ao cinema com elas (que gostam dos  mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora para voltar,  compartilhar uma caipivodca de morango e repetir as histórias que  já nos contamos mil vezes - isso, sim, faz bem para a pele. Para a  alma, então, nem se fala. Ao menos uma vez por mês, deixe o marido ou o namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem  uma vez (desligue o celular, se for preciso) e desfrute os prazeres  que só uma boa amizade consegue proporcionar. E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulário  duas palavras que têm estado ausentes do cotidiano feminino: pausa e silêncio. Aprenda a parar, nem que sej a por cinco minutos, três vezes  por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia - não importa - e a ficar em silêncio. Essas pausas silenciosas nos permitem refletir,  contar até 100 antes de uma decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos, reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando  é preciso.


Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo rir.  Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma  mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser banidas do nosso dia a dia. Se for preciso, pegue uma comédia na  locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga engraçada - faça qualquer coisa, mas ria.  

O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vi da. Quanto à palavra dieta, cuidado: mulheres que falam em regime o tempo todo costumam ser péssimas companhias. Deixe para discutir carboidratos e afins no banheiro feminino ou no consultório do endocrinologista. Nas mesas de restaurantes, nem pensar.  Se for para ficar contando calorias, descrevendo a própria culpa e  olhando para a sobremesa do companheiro de mesa com reprovação  e inveja, melhor ficar em casa e desfrutar sua salada de alface e  seu chá verde sozinha. Uma sugestão? Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra  que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: gentileza.  

Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada.  Saber se comportar é infinitamente mais importante do que saber  se vestir. Resgate aquele velho exercício que anda esquecido:  aprenda a se colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria  de ser tratada, seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde   trabalha, em casa, no supermercado, na academia. E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam  ser indissociáveis da vida: sonhar e recomeçar. Sonhe com aquela  viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia, o curso que você  ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem  que um d ia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que está beijando  o Richard Gere... sonhar é quase fazer acontecer.  

 Sonhe até que aconteça. E recomece, sempre que for preciso:  seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos familiares.  A vida nos dá um espaço de manobra: use-o para reinventar a si mesma. E, por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a palavra perfeição.
O dicionário das mulheres interessantes inclui fragilidades, inseguranças, limites. Pare de brigar com você mesma para ser a mãe  perfeita, a dona
de casa impecável, a profissional que sabe tudo,  a esposa nota mil. Acima de tudo, elimine de sua vida o desgaste que  é tentar ter coxas sem
celulite, rosto sem rugas, cabelos que não  arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni. Mulheres reais são  mulheres imperfeitas. E mulheres
que se aceitam como imperfeitas  são mulheres livres. Viver não é (e nunca foi) fácil, mas, quando se  elimina o excesso de peso da bagagem (e a
busca da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica muito mais possível. 

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