sábado, 2 de outubro de 2010

Poesia Árabe I





Quando o amor o chamar


Se guie 


Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados


E quando ele vos envolver com suas asas


Cedei-lhe


Embora a espada oculta na sua plumagem possa feri-vos


E quando ele vos falar


Acreditai nele


Embora a sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim


Pois da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica


E da mesma forma que contribui para o vosso crescimento


Trabalha para vossa poda 


E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol


Assim também desce até vossas raízes e a sacode no seu apego à terra 


Como feixes de trigo ele vos aperta junto ao seu coração


Ele vos debulha para expor a vossa nudez


Ele vos peneira para libertar-vos das palhas 


Ele vos mói até extrema brancura


Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis


Então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino


Todas essas coisas o amor operará em vos para que conheçais os segredos de vossos corações 


E com esse conhecimento vos convertais no pão místico do banquete divino


Todavia se no vosso temor procurardes somente a paz do amor, o gozo do amor


Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez, abandonásseis a ira do amor


Para entrar num mundo sem estações onde rireis, mas não todos os vossos risos


E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas 


O amor nada dá, se não de si próprio


E nada recebe, se não de si próprio


O amor não possui nem se deixa possuir


Pois o amor basta-se a si mesmo


Quando um de vós ama, que não diga 'Deus está no meu coração'


Mas que diga antes 'Eu estou no coração de Deus'


E não imagineis que possais dirigir o curso do amor pois o amor se vos achar dignos determinará ele próprio vosso curso


O amor não tem outro desejo se não o de atingir a sua plenitude


Se contudo amardes e precisardes ter desejos 


Sejam estes os vossos desejos


De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite 


De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada


De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor


E de sangrardes de boa vontade e com alegria


De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor


De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor


De voltardes pra casa à noite com gratidão 


E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado


E nos lábios uma canção de bem-aventurança

(poema árabe)








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